Tinha uma pedra. Sim, no meio do meu caminho. E eu,
desastrada e distraída, tropecei.
Ralei o joelho. Doeu. Sangrou. Passei o dedo e ardeu. Olhei
para o sangue no chão. Cheguei pertinho. Vi-me refletida de vermelho e vinho,
coagulando a minha imagem enquanto a pedra ria da minha miséria.
Falei baixo para ela “Não doeu tanto assim”. Mas era uma
pedra especial, que lia pensamentos. E ela me disse, sarcástica e feia “Eu sei
que doeu”.
A pedra e eu em um discurso chato, onde ela insistia que era
eu que tinha entrado no caminho dela. “Mas pedra não tem caminho, a pedra é o
caminho”, argumentei enquanto ela estremecia ao me ver tão de perto.
“Continua a andar, tola”, ela repetia como se quisesse me
tirar dali depressa. “Claro, claro”. Levantei-me rápido. Tirei a poeira dos
joelhos e continuei a caminhada. Tinha uma pedra no meio do caminho. Aí eu a
chutei para o cantinho e continuei a andar.